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A criança perfeccionista

Na nossa sociedade, ser perfeccionista é considerado uma virtude. Inclusive em entrevistas de trabalho, uma das características mais positivas a ser citada, é a de ser perfeccionista!

Uma pessoa que almeja sempre dar o melhor de si, fazer todas as atividades perfeitamente. Parece maravilhoso, não? No entanto, para algumas pessoas isso pode ser uma armadilha.

Segundo um estudo feito por renomados psicólogos na Alemanha, pelo menos 50% dos pais de crianças superdotadas descreveram seus filhos como perfeccionistas. Um quinto destas famílias descreveram seus filhos como tão perfeccionistas, que esta característica ao invés de uma virtude, mostrava-se como um peso na vida delas.

Quais os problemas que o perfeccionismo pode trazer?

Por exemplo: algumas crianças reagem com ataques de raiva, quando não atingem o resultado desejado ao fazer uma atividade. Outras nem se atrevem a começar a atividade, porque para ela, a atividade de toda forma não atingirá a perfeição desejada. “Eu não vou saber desenhar uma árvore exatamente como ela é, por isso eu não desenho nenhuma.”

Isso significa que o excesso de perfeccionismo pode ser uma armadilha para o desenvolvimento físico e psicológico de uma criança.

Como reconhecer crianças perfeccionistas

  • Grande exigência para consigo mesmo : crianças perfeccionistas tem um alto padrão de exigência para consigo mesmas e para com os outros também. A exatidão de detalhes tem para elas um significado muito grande. Muitas vezes, elas definem sua autoestima de acordo com o resultado do seu esforço e do resultado de suas atividades. Quando não conseguem realizar uma tarefa de acordo com o seu desejo, normalmente porque a sua exigência estava muito alta, é comum sentirem-se fracassadas. Depressão e medo podem ser consequecias deste quadro.
  • Insegurança e medo de errar : um círculo vicioso. Quanto mais elas tem esta alta exigência de si mesmo, menos seus resultados serão bons o suficientes para elas. Sendo os resultados não bons o suficientes para elas , maior será sua insegurança de fazer um trabalho bem feito na próxima vez. Um efeito deste quadro é um constante medo de errar.
  • Preocupação com a opinião de outras pessoas : estas crianças se preocupam bastante com a opinião de outras pessoas em relação aos seus trabalhos. Principalmente com a opinião de seus pais e seus familiares mais próximos.
  • Ordem e organização : ordem é importante para estas crianças. Muitas delas criam verdadeiros rituais para algumas atividades ou organizam brinquedos em uma determinada ordem em seu quarto ou no seu lugar de trabalho. Exemplo: a caneta sempre ao lado direito do caderno ou seus carrinhos sempre por ordem de cor ou de tamanho na sua estante.
  • Lentidão : Perfeição requer tempo. Por isso, crianças perfeccionistas tendem a fazer seus trabalhos mais vagarosamente.
  • Não suporta muita frustração : quando uma atividade não pôde ser feita de acordo com as suas expectativas, a criança superdotada perfeccionista reage muitas vezes com ataques de raiva, desespero ou agressão.
  • Pouca paciência para treinar : pouca paciência para treinar. Quando o resultado desejado não é alcançado pela primeira vez, estas crianças podem desistir ou reagir com crises de raiva.
  • Pouca motivação para começar trabalhos novos : quando na opinião da criança, um trabalho não pode ser já na primeira vez realizado perfeitamente,  ela prefere nem começar. Resultando em uma espécie de bloqueio para trabalhos novos.

 Uma criança já nasce  ou torna-se  perfeccionista?

Para esta questão há várias teorias. Algumas delas são:001675

A teoria proposta por Burns, prevê que a criança torna-se  perfeccionista pelo incentivo direto ou indireto dos pais. Ou seja, todas as vezes que a criança produz um bom trabalho, ela é extremamente elogiada e coberta de carinho e amor. Quando seu trabalho não está à altura da expectativa de seus pais, ela é privada de amor. Como para a criança o amor e a atenção dos pais são absoluta prioridade, ela aprende a ser perfeccionista.

Outra teoria interessante, de Albert Bandura, é a de que a criança aprende com o exemplo. Aqui crianças perfeccionistas imitam a forma perfeccionista de ser dos pais.

Para Silverman o perfeccionismo na criança superdotada, é apenas uma consequência da sua alta capacidade de pensamento abstrato, já que a perfeição é um ideal abstrato. Ou seja, a perfeição é um ideal abstrato que nasce da nossa capacidade de pensar, então quanto maior a capacidade de abstração, maior o perfeccionismo.

E por último acrescenta Kerr que o perfeccionismo em crianças superdotadas não é de forma alguma o resultado da educação na família, mas sim uma característica inata da criança. Ele também coloca que o perfeccionismo nestas crianças não é uma característica necessariamente negativa.

“O perfeccionismo aqui pode ser a energia que impulsiona a fazer trabalhos maravilhosos.” (Kerr)

Kerr descreve pessoas perfeccionistas como pessoas dispostas a pagar um alto preço para um resultado de excelente qualidade, formando-se como consequência  desta constelação, grandes personalidades como: campeões olímpicos, excelentes artistas e cientistas.

Como podemos observar, o perfeccionismo pode apresentar-se de maneira positiva ou negativa, dependendo do grau e do contexto onde ele aparece.

Professores, educadores, pais que condenam o perfeccionismo de maneira geral e tentam a qualquer custo bloqueá-lo em uma criança, podem prejudicar a desenvolvimento delicado da sua personalidade. Melhor seria respeitar o perfeccionismo natural da criança e tentar dirigi-la para um lado positivo.

Para isso, há que ater-se a aspectos como: escolher prioridades, ganhar a confiança da criança, falar com a criança ou publicamente sobre seus próprios erros e mostrar para a criança que também é possível divertir-se e sentir prazer com atividades que não requerem esforço ou com atividades que não há nem competitividade, nem certo ou errado.

Simone Clemens: Pedagoga Montessoriana – Especialista em Superdotação /Altas Habilidades  – Fundadora da EducarSi -Alemanha.

Bibliografia: Hochbegabtenberatung in der Praxis – Wittmann, Anna Julia; Holling, Heinz. 2004, 2. edição, editora Hogrefe

Psychologie – Hobmair 2003, 3. edição, editora E1NS

Pädagogik – Hobmair, 2002, 3. edição, editora E1NS