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Críticas à pedagogia montessoriana

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“Em escolas montessorianas as crianças fazem o que querem!”

Nem todos se identificam com Montessori, fazendo algumas críticas ao seu método. Aqui exponho as críticas mais comuns ao método e a visão de pedagogos montessorianos com relação à estas críticas.

A primeira crítica é esta:

“Em escolas montessorianas as crianças fazem o que querem!”

Em escolas montessorianas as crianças tem muita liberdade. Elas aprendem de acordo com sua motivação. Elas podem escolher o que, com quem, onde e quando aprender. Porém esta liberdade vem com responsabilidade e disciplina.

Elas tem que respeitar seus colegas. Elas trabalham em silêncio ou em tom de voz que não atrapalhe os outros colegas. Elas não precisam ficar sentadas nas cadeiras feito estátuas, podem andar pela sala, porém, sem correr e de uma forma que não atrapalhe o trabalho do próximo. Elas aprendem a ser gentis (sociais) com seus colegas e com seus professores. Elas aprendem a esperar a atenção da professora se esta estiver ocupada com outro colega. Elas tem que cuidar do material didático, colocando-o no seu respectivo lugar, completo, no lugar onde o encontraram.

Nas escolas, elas se responsabilizam por seu aprendizado da seguinte forma prática: elas cumprem um “pensum” por semana, ou seja, cada criança se compromete a ocupar-se de um tema determinado durante a semana (por exemplo adição) e mostrar a professora qual o trabalho feito no final desta. No encontro, a professora conversará com a criança o que foi feito, o que talvez poderia melhorar e sugerirá caminhos para o complemento do tema.

Dentro de tudo isso, elas fazem o que querem…não é à toa que quem vive um dia em uma escola tradicional montessoriana se surpreende com tanta disciplina dentro de tanta liberdade.

“Professores montessorianos não tem autoridade”

Sim, professores montessorianos não são temidos por seus alunos, eles tem o respeito destes.

Professores do sistema tradicional de ensino sentem-se sobrecarregados. Por precisarem abusar de sua voz, de seus nervos, sentem-se constantemente cansados. Por precisarem da atenção da classe toda o tempo todo e não serem correspondidos, sentem-se pouco respeitados e não reconhecidos.

Os professores do método montessoriano não necessitam impor sua presença todo o tempo, eles são procurados constantemente. Eles não necessitam expor o conteúdo didático na frente de uma sala cheia, chamando a atenção de quem não presta a atenção. Eles trabalham de tapete em tapete, de mesa em mesa, podem falar em tom de voz normal  e são requisitados durante todo o período de aula. Os alunos vem que sua ajuda é imprescindível.

“Ambiente preparado é artificial e pobre

002952O ambiente preparado nada mais é do que sugestões concretas de diversos temas. Em uma sala de aula deve haver de diversos os temas vários materiais. Dentro do que chamamos de “materiais tradicionais”, são incluídos também tudo o que possa inspirar a criança. Animais de estimação, não é incomum haver um cão da escola (por exemplo da secretária ou de uma professora), ou um gato ou aquário. O jardim da escola, a praça mais perto, o bosque, a floresta pode ser um ambiente preparado para uma aula de Biologia, de Matemática e até de Português. A natureza é um ambiente pobre? Um ambiente que inspire as crianças a ocuparem-se de diversas formas do conhecimento humano, não é necessariamente pobre.

“Pais e escola juntos só dá confusão!”

Muitas vezes os pais não reconhecem o trabalho do professor, dos funcionários e dos gestores, porque não vivem este trabalho de forma ativa.

Quando os pais são levados a participarem ativamente da vida na escola, eles veem o trabalho do professor, do gestor, de outra forma. Quando eles mesmos veem como é o trabalho de limpar materiais, consertar cadeiras e mesas, fazer trabalho de escritório, de organização de festas, as expectativas e o o valor das atividades mudam. E o amor também. Amamos aquilo que cuidamos.

As crianças também passam a olhar a escola de modo diferente. Se eles mesmos plantam a horta da escola junto com os pais, eles cuidarão melhor dela. O amor aumenta. Se eles mesmo veem que seus pais consertam e limpam as cadeiras, haverá um cuidado maior com isso, do que se simplesmente alguém houvesse limpado sem nem estar na presença deles (como é o caso da pessoa da limpeza, a qual faz seu trabalho depois que as crianças vão embora da sala) e assim por diante.

Trabalhando juntos, aprende-se a dialogar. Desenvolve-se tolerância, tão necessária nos dias de hoje. Se pais e professores entenderem-se e se colocarem em uma mesma linha, poderão educar melhor as crianças.

“Crianças andam de um lado para outro na sala, uma bagunça!”

Isso já era dito há 70 anos atrás para Montessori mesmo. Ela respondeu “Se crianças se movimentam de forma calma, respeitosa e produtiva não vejo porque seja ruim.!”

Hoje a neurociência já  provou que o cérebro e o corpo em desenvolvimento comunicam-se constantemente. O cérebro manda impulsos em forma de necessidade de movimento para saber o quanto determinadas partes do corpo cresceu” Mostre-me o quão grande está seu braço, e agora suas pernas e agora os pés…” e por isso a criança tem a necessidade de se movimentar tanto. Ela não faz porque é mau educada ou porque tem um distúrbio…Crianças precisam movimentar-se. E a neurociência já pode observar também que com o movimento do corpo, aprende-se melhor e que o conhecimento adquirido durante o movimento fica gravado por mais tempo.

Crianças quietinhas sentadas em uma cadeira por horas, felizmente pertencem ao passado.  Montessori estava muito à frente de seu tempo quando já apresentava sua idéia.

“Montessori forma crianças egoístas pois eles só trabalham sozinhos!”

montessori-tanzaniaTudo o que a criança aprende, primeiro se dirige a ela mesma e depois aos amigos e para seu meio. Tudo! Absolutamente tudo. Se a criança aprende a amarrar os sapatos, primeiro ela amarra seus próprios sapatos, depois ela ajuda os menores na atividade aprendida. Quando a criança aprende a por a mesa, ela coloca a mesa para seu grupo na hora do almoço. Quando ela aprende a regar as plantas, ela cuida das plantas da sala, da horta de onde todos vão comer. Primeiro eu aprendo e depois posso usar esta capacidade ou conhecimento em pró do outro. Existe aspecto mais social do que ficar em silêncio ou falar em tom baixo para não atrapalhar os colegas? Ou colocar o material usado completo na prateleira para o próximo colega poder usá-lo?

A criança montessoriana é livre

Livre para escolher se quer trabalhar só ou em dupla ou em grupo. O conteúdo aprendido é individualizado, a pedagogia é altamente social. Assim como o indivíduo vive em sociedade

Em instituições montessorianas há constantemente trabalhos em grupo. São organizados projetos em grupo. Há orquestras, bandas musicais. Aqui na Europa fazemos a firma escolar, onde os alunos compram e vendem produtos em conjunto na escola, como se fosse um mini firma profissional.

Se tudo isso não é socialização, então eu não sei o que significa socialização.

Fato é que a pedagogia montessoriana se estabeleceu no mundo inteiro e sobreviveu à guerras, ditaduras e críticas. Suas colunas de “trabalho livre”, o ambiente preparado, os móveis adaptados ao tamanho da criança na educação infantil, classes com idade heterogênea, a criança como centro do seu aprendizado, o apoio incondicional à independência da criança, o respeito ao trabalho e à forma peculiar de aprender da criança, o aprendizado sensorial, a importância da união de pais com a escola, a conscientização da criança que ela é parte de um todo, de todo o universo (educação cósmica – meio ambiente), a educação para a paz, foram um marco indiscutível na história da pedagogia.

Seus princípio estão mais sólidos e atuais como nunca, sendo base de toda a pedagogia moderna de primeira linha, seja qual for a sua variação.

Simone Clemens, pedagoga montessoriana internacional,  Especialista em Superdotação/Altas habilidades/Supersensibilidade -Alemanha