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Montessori – Turmas mistas

No método montessoriano os grupos são mistos. Mas o que significa isso?

globechildrenSignifica que os grupos são compostos por crianças de idade e sexo diferentes. Meninos e meninas em um mesmo grupo não foi sempre óbvio. Principalmente em instituições religiosas era comum a separação de meninos e meninas em grupos e escolas . Havia escolas para meninos, ensinados pelos padres e meninas por freiras por exemplo. Mas também escolas de apenas apoio e influência religiosa, seguiam o mesmo modelo, só variando o corpo docente, que podia ser composto por professores e professoras, mesmo assim, os alunos eram selecionados pelo gênero.

Separação por gênero

Além do aspecto moral regente na época, a separação dos sexos era guiado pela idéia rígida de que homens e mulheres possuíam diferentes capacidades e interesses.

O homem seria mais capaz intelectualmente e se interessava por temas da área de ciências naturais como matemática, química e física, assim como por todos os temas técnicos. A mulher menos dotada intelectualmente, faria melhor atividades manuais como bordar, costurar e artes em geral. Por natureza era dotada para cuidar das crianças e cuidar da casa. Com estes conceitos eram formados os grupos distintos e o conteúdo a ser aprendido também era assim direcionado.

Com a emancipação da mulher na sociedade, estes conceitos arcaicos foram caindo e a aceitação de grupos mistos entre gêneros foi se consolidando cada vez mais. Hoje tornando-se na sua imensa maioria. Se formos detalhar ainda mais este aspecto sobre gêneros separados nas escolas, encontraremos ainda interessantes pontos.

Depois do sistema de ensino ter sido consolidado com o sistema de gêneros mistos, inda há algumas instituições com o sistema tradicional, onde se separa meninos e meninas. Porém hoje por diferentes razões. Estas instituições que voltaram ou mantém este sistema arcaico podemos dividir em dois grandes grupos:  Instituições Religiosas, compostas por freiras ou padres, que simplesmente mantém suas tradições organizacionais – escolas em conventos, onde freiras, continuam a lecionar meninas e mosteiros, onde padres continuam a lecionar meninos. Porém hoje, com o modernos conceitos e valores da nossa sociedade e modernos esclarecimentos psico-pedagógicos.

Outro grupo são instituições guiadas e apoiadas por pessoas que vêm a separação de gêneros como uma vantagem para ambos os sexos,  principalmente para as meninas. Esta vertente tem em mente que na nossa sociedade ainda há resquícios fortes de um tempo  onde o gênero determinava de forma fixa o tipo de conhecimento e interesse de uma pessoa. Meninas seriam educadas ainda hoje, para serem mães, donas de casa, realizar atividades manuais, a exercerem profissões que venham servir  e de ordem submissa. Exemplificando na prática, seriam educadas ou encorajadas para serem secretárias, enfermeiras, professoras ou ajudante em diversas áreas. Já os meninos seriam educados e encorajados para cargos de liderança como chefes em geral, engenheiros, médicos, advogados. Cientificamente, esta vertente vê-se apoiada por estatísticas, que mostram por exemplo, que profissões técnicas são esmagadoramente dominadas por homens. Assim como no mundo profissional em geral, cargos de liderança também são dominadas ainda na sua maioria por homens.

Para eles, a causa deste fato encontra-se nesta educação ainda regente na nossa sociedade. Tanto em casa quanto na escola. Meninos ainda exercem inconscientemente sua posição de liderança na sala de aula, fazendo com que as meninas não se sintam à vontade em aprender, perguntar mais sobre temas técnicos e ciências naturais. Estas sentiriam-se tímidas ao buscar por exemplo, os espaço destinados à construções na sala de aula, pois estes geralmente seriam ocupados na sua maioria por meninos.

Em uma sala separada, meninas poderiam perguntar, aprender mais e entrar mais rapidamente em contato com temas técnicos, longe dos olhares e possíveis comentários deexpert” dos garotos. Paralelamente os garotos sentiriam-se mais à vontade em tratar de temas como sentimentos, em aprender outros idiomas, em aprender atividades da vida prática de uma casa como cozinhar, organizar suas roupas, longe dos olhares e possíveis comentários de “expert” das garotas.

Até que ponto esta separação física de gêneros realmente atinge seus objetivos e se esta forma é realmente necessária ou mais eficaz para tal objetivo, assim como, qual a influência e consequência psicológica esta separação causa em  crianças e adolescentes, deixo para a reflexão de cada um.

Voltando à Montessori, esta à seu tempo, praticava uma pedagogia onde meninos e meninas teriam as mesmas oportunidades de aprendizado em todos os temas, os quais lhe interessassem individualmente. Nesta forma de pedagogia, meninos e meninas são vistos primeiramente como serem humanos a serem educados para sua autonomia. Por isso todos são educados para aprenderem a cuidar de si  e do seu meio. Com as atividades da vida prática, crianças aprendem como cuidar de suas roupas, sapatos, suas mesas, limparem o chão, cuidar de plantas, jardim, horta… o grupo é misto, pois não se vê a necessidade de separação quanto a este tipo de atividade. O grupo é de crianças.

Além da questão de gênero, grupos em instituições educacionais ainda podem ser separados por idade cronológica.

Separação por idade cronológica

Apoiados pelas teorias de aprendizado e desenvolvimento de grandes psicólogos e pedagogos, instituições educacionais dividem suas crianças por idade cronológica. Estas teorias atestam de forma geral que o ser humano em  faixas etárias semelhantes possuem etapas de desenvolvimento e interesses semelhantes, por isso podem e devem aprender em grupos cronológicos também semelhantes.

Neste conceito trabalha o sistema tradicional de ensino. Montessori  portanto trabalhava diferente.

Montessori

Crianças de diferentes idades colaboram, ensinam e servem de exemplo e espelho umas às outras, portanto é enriquecedor tê-las em um mesmo grupo.

Montessori observou fazes do desenvolvimento e não se ateve rigidamente à idade cronológica. Por esta razão, na pré-escola, Montessori trabalha com crianças de 3 à 6 anos de idade e na escola com grupos de 6 à 8 anos, 8 à 11 anos.

Depois continua unindo-as em grupos de 2 anos separadamente e os maiores em um só grupo no final.

Hoje já não é incomum na pré escola, crianças de diferentes idades serem agrupadas em um mesmo grupo 3 à 6 anos. Aqui na Alemanha é padrão.

Ainda  incomum é a união de crianças de diferentes idade na escola!

Crianças de diferentes idades na escola

Este conceito consiste no aspecto cognitivo, que a crianças continue a aprender à partir de onde ela está. A criança não necessita esperar ninguém e nem sentir-se mau porque necessita de mais tempo. Quem já sabe ler, se aprofunda, não necessita ver as letras uma por uma novamente, quem ainda não sabe aprende sem constrangimento. O mesmo em todas as matérias. Todos tem um diferente rítmo de aprendizado. O meio oferece o conteúdo a ser aprendido na forma de materiais e cada criança escolhe o tema que no momento a interessa. Para aprender o conteúdo indicado pelo Estado, a criança tem um período de mais ou menos 2, 3 anos. Por exemplo: a classe é composta por alunos do 1. ao 3. ano, com crianças de 6 a 8 anos de idade.

A idéia agrada a muitos. Porém na prática há ainda muitas dificuldades, falta de conhecimento em como colocar este conceito em andamento. As dificuldades se dão principalmente porque o método montessoriano ainda é quase que desconhecido em países de língua portuguesa. Bem, com a sala preparada e os materiais montessorianos fica fácil se trabalhar com grupo de idades heterogêneas. Porém, mesmo sem os materiais tradicionais montessorianos é também possível. Aliás, a idéia não é nova como se pensa. No começo do século passado, em cidades muito pequenas, se trabalhava de forma semelhante: um grupo com alunos de todas as idades.

Hoje com a mesma idéia inicial, o grupo na sala de aula é dividido por ordem de semelhantes capacidades. O professor trabalha com um grupo enquanto o outro/os outros trabalham  resolvendo suas atividades.

Mesmo sendo tão  simples , muitos professores sentem-se inseguros em aplicar esta forma em sua sala de aula.

A maior reclamação ou o maior medo é da indisciplina dos alunos. Sua experiência é que enquanto ela se ocupa com um grupo, o outro grupo não páre de falar, brinque, faça gracinhas e não dê paz para os outros trabalharem. Ou que desta forma elas não consigam lecionar ou os alunos não consigam aprender todo o conteúdo necessário

O receio se entende. Mas para que isso não aconteça há que se verificar alguns aspectos.

  •  A escola (direção) tem que estar empenhada a trabalhar desta forma. Há que haver a pré disposição de se aprender a trabalhar diferente.
  • O docente tem também que estar de acordo a aprender a trabalhar diferente. (O professor que já acha que tudo isso é uma balela, que sempre se aprendeu da outra forma e que ele não tem energia e que ganha muito pouco para se dar ao trabalho de aprender algo novo, nem adianta começar…).
  •  O ambiente tem que ser bem pensado: como os grupos podem ser separados na sala de aula? Há possibilidade de um dos grupos se retirar para trabalharem em outro lugar na escola? Por exemplo um corredor, ou uma biblioteca, ou no pátio, ou no jardim?
  • Sensibilização dos alunos para a nova forma de aprendizado. esta sensibilização é contínua.
  •  Paciência e esperança . Todo trabalho novo não é fácil e nem acontece de forma mágica de uma hora para outra. Há dias que não se consegue exatamente o que se imaginou. Mesmo assim deve-se analisar o que não deu certo e como se pode mudar para que melhore no dia seguinte.
  •  Pedir ajuda, aconselhamento a pessoas que sabem como fazê-lo.

No aspecto social Crianças de diferentes idades colaboram, ensinam e servem de exemplo e espelho umas às outras, portanto é enriquecedor tê-las em um mesmo grupo. Crianças maiores oferecem sua capacidades às menores, as menores por sua vez oferecem sua sensibilidade aguçada, sua forma especial de ver as coisas.

Turmas mistas fazem parte da educação do futuro. A educação é mista e individual, respeitando cada ser humano como único, considerando suas peculiaridades, seus talentos e incentivando-o a desenvolver-se on estão suas dificuldades.

Simone Clemens, pedagoga montessoriana internaiconal e Especialista em Superdotação e Supersensibilidade Alemanha